É preciso oferecer aos bebês e às crianças um ambiente sonoro rico e diversificado. Investigar, explorar e buscar alternativas para a prática musical deve ser um desafio constante para pais, mães, parentes próximos e educadores que convivem com os bebês e as crianças.
Não duvidamos da proximidade da criança com a música. Do primeiro ao terceiro ano de vida, os bebês vão desenvolvendo formas de expressão musical à medida que vão conquistando e descobrindo sons vocais e corporais.
Durante esse período, é na sua interação com os objetos, jogos e brinquedos sonoros que lhe são disponíveis que os bebês iniciam sua produção musical, de modo intuitivo e afetivo, através da exploração espontânea do som e suas qualidades (altura, duração, intensidade e timbre), oriundos dos materiais sonoros que estão ao seu alcance.
Dá-se, então, o início do seu processo de musicalização. Mas, para que ocorra de modo natural e gradativo, é preciso oferecer aos bebês e às crianças um ambiente sonoro rico e diversificado, seja este em sua própria casa ou em outro lugar que costuma frequentar no seu cotidiano.
Vamos dar um exemplo: se o bebê ou uma criança pequena tiver ao seu alcance ou se a ele for dado um pandeirinho, um chocalho, qual será sua primeira reação? Com certeza, manuseá-lo, em virtude da atração e curiosidade que os instrumentos musicais e os objetos sonoros exercem sobre eles.
Há, sim, o contato inicial e prazeroso proporcionado pelo objeto sonoro, cujo som desperta alegria, prazer de tocar, de explorá-lo sonoramente e de relacionar-se com ele. Há o desejo de tocar, bater, sacudir, fazer som que o instrumento musical ou qualquer outro objeto sonoro possa despertar na criança.
Sabemos que o manuseio de objetos sonoros é de suma importância para a criança. Dar a elas a oportunidade e a liberdade de experienciarem e explorarem, de maneira viva e concreta, os objetos sonoros e os instrumentos musicais que produzem os mais variados tipos de som corresponde a levá-las a criar os primeiros vínculos com o mundo sonoro presente à sua volta, antes desconhecido, ou ainda não explorado.
O manuseio sistemático de objetos sonoros permite à criança identificar os sons, semelhantes ou distintos entre si, classificá-los e ordená-los. Perceber que o som de um objeto ou instrumento musical pode durar mais tempo do que outro, que a forma usada interfere na qualidade do som produzido, que há diferentes maneiras de manusear o instrumento – sacudindo, batendo, soprando, raspando – tudo isso, além de representar algumas formas concretas de expressão e de percepção sonora ativa, propicia aprendizagens reais e verdadeiras mediadas pelo contato das crianças com os instrumentos musicais.
Entretanto, é importante frisar que, não basta oferecer aos bebês e às crianças os instrumentos musicais ou objetos sonoros de que dispomos. Importa estabelecer uma ação integrada entre criança e instrumento musical que proporcione alegria e prazer pelo contato e manuseio desses materiais, ou seja, propiciar-lhes ações que alimentem sua capacidade de perceber, de descobrir, de explorar, de criar e de fazer música.
Mesmo que não saibam como lidar com os instrumentos musicais, mesmo que não dominem a música como gostariam, investigar, explorar e buscar alternativas para a sua prática deve ser um desafio constante para pais, mães, parentes próximos e educadores que convivem cotidianamente com os bebês e as crianças pequenas.
Por fim, é bom esclarecer que o objeto sonoro ao qual no referimos identifica-se como material de sucata ou qualquer objeto que possa produzir um som: chaves, tampinhas de garrafa, copinhos de plástico diversos, caixinhas de fósforo, latinhas, bichinhos de borracha, pauzinhos, papeis diversos, embalagens plásticas, etc.
Já, os instrumentos musicais identificam-se, neste caso, como os instrumentos de percussão ou de bandinha (de sons indeterminados): tambores, pandeiros, chocalhos, coquinhos, guizos, triângulos, pratos, caxixis, reco-recos, apitos, etc. Há, ainda, os instrumentos musicais, como o piano, o violão, o violino, a flauta, e muitos outros que, diferentes dos de percussão, possuem sons determinados. É importante acrescentar que consideramos material sonoro não só os objetos sonoros e os instrumentos musicais, mas também a voz humana, isto é, a própria voz da criança.
Profa. Dra. Alícia Maria Almeida Loureiro é graduada em Piano e Licenciatura em Música pela Escola de Música da UFMG, e em Psicologia pelo Unicentro Newton Paiva/MG. Especialista em Educação Musical pela Escola de Música da UFMG e em Psicologia Educacional pela PUC/MG. Mestre em Educação pela PUC/MG e Doutora em Educação pela Faculdade de Educação da UFMG. Ministra há muitos anos o minicurso “Vivência musical no cotidiano escolar”, voltado para educadores da educação infantil e ensino fundamental. Autora de várias canções e artigos publicados e do livro “O ensino de música na escola fundamental”, publicado pela Editora Papirus.
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