Essa semana me contaram da resposta de uma mãe ao bilhete de escola que, ao enviar um recado para os pais, destinava apenas com um ultrapassado “Mamãe…”.
Sou pai do João de 9 anos e desde seu nascimento sou praticamente o único responsável pelas tarefas cotidianas: para casa, reunião, consultas, dentista, lazer… Minha esposa é pediatra e, por conta da profissão, passa grande parte do tempo fora de casa. Essa semana me contaram da resposta de uma mãe à escola que, ao enviar um recado para os pais, destinava apenas com um ultrapassado “Mamãe…”. E ao ler isso, decidi contar um pouco da minha experiência de “pai solteiro”.
Na resposta, a mãe, cujo o nome foi preservado, pede à escola que toda comunicação entre escola e casa seja destinada aos responsáveis. Englobando não só os pais, mas também os avós, tios, madrinhas, padrinhos e a qualquer responsável por uma criança.
A atual geração vive uma grande discussão sobre papéis. A mulher (mãe) deve ocupar o espaço que ela quiser. Não mais a cozinha e a dedicação exclusiva aos filhos. Já o homem deve cumprir sua função de ajudar em qualquer tipo de tarefa dos filhos. Não tenho amigos gays que já tenham filhos, mas acredito que não muda nada nesse caso. As tarefas permanecem divididas.
Mas a discussão deve ir um pouco além da residência da família. Cada casal tem sua rotina e sabe bem (ou pelo menos deveria) o que cabe a cada um. O dever de toda instituição é, no mínimo, mudar seu conceito, atualizar o status para a realidade em que vivemos e ter a consciência que a mãe não é mais a única responsável.
Vivi e vivo até hoje algumas situações embaraçosas. Durante todo o pré natal do João eu era sempre o único pai presente. O pré natal foi feito em um hospital de residência médica e a consulta era marcada no mesmo horário para todas as mães (e pais que queriam acompanhar) e o atendimento era feito em ordem de chegada. As salas de esperas geralmente eram bem cheias e eu era sempre o único pai. Um estranho no ninho. Somente uma vez me recordo de ter encontrado com outro ser da mesma espécie.
Os olhares eram sempre de surpresa ao me ver. Bons ou ruins, eu não sei. Prefiro pensar que eram olhares bons… de admiração.
No próprio parto do João, em 2007, que acompanhei do início ao fim, precisava descer um ou dois lances de escada para ir ao banheiro. Não existia banheiro masculino no andar. Simplesmente por que não haviam homens no andar. Os funcionários tinham banheiro próprio, obviamente.
Em bares e restaurantes, raramente o banheiro é um espaço família. Em sua maioria é um fraldário e um vasinho dentro do banheiro feminino. Hoje o João cresceu e vai sozinho. Mas antes, essa situação era um constrangimento. Eu simplesmente aguardava o banheiro feminino esvaziar e entrava com o João. Deixava a porta aberta para mostrar que eu estava ali dentro e preparava o sorriso amarelo para explicar à primeira mulher que entrasse no banheiro que estava ali porque não tinha escolha.
Me lembro de uma mãe que manteve os filhos bem próxima de si ao me ver “sozinho” dentro do espaço família de um shopping. Quando ela entrou, o João estava fazendo coco de porta fechada (o box mal cabia nós dois). Então, fiquei parado dentro do espaço, esperando ele me chamar. (Um estranho no ninho 2). Se fosse uma mãe, acredito que ela logo imaginaria que estava esperando seu filho. Um homem (não pai. Um homem.) parado ali dentro era no mínimo, suspeito.
Voltando à mãe da carta, sua atitude, de questionar à escola, é papel de todos nós “responsáveis” por uma criança. Alertar qualquer instituição (escola, restaurante, shopping, etc) que o mundo mudou. E os pais estão cada dia mais presentes e cumprindo o que sempre foi o seu dever. Como disse certa vez o Marcos Piangers “vivemos a melhor geração de pais.” e o mercado tem que estar preparado pra isso.
Ps.: A foto é apenas para ilustrar um momento de pai pra filho. ??
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Sou Rafa Andrade, fundador do Sem Choro, empreendedor, Designer Gráfico e Web, Diretor da Agência iMAGON, pai do João (e, futuramente, da Manuela ou do Marcelo) e pai solteiro até me casar com a mãe de criação e coração do João, a Bebela (como o João a apelidou).
contato: rafael@semchoro.com.br