Eu tenho dificuldade de falar de sexo com criança. Até porque o João só faz pergunta em público: sala de espera, escada rolante, elevador e por aí vai…
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O João está com 9 anos e eu tenho sérios problemas em conversar sobre sexo com ele. As perguntas ainda estão começando, mas qualquer assunto delicado já dou uma travada. Bobagem minha. Mas tenho realmente essa dificuldade.
Uma das dificuldades é que ele sempre faz as perguntas na hora errada, em tom mais elevado e em lugares inapropriados.
Outro dia estávamos esperando para colher exame de sangue. 7 e pouca da manhã. Lotado. E ele, sentado de perna aberta com a mão apalpando o saco como quem faz carinho em um animal raro e desonhecido, me solta: “Pai, pra que serve essas duas bolinhas que a gente tem?”.
Cai na gargalhada e não consegui responder. Envergonhado, disse: “Em casa você pergunta de novo.”
Podia ter respondido na maior naturalidade. Afinal de contas, é natural mesmo. Anatomia básica. Mas como falei, tenho sérios problemas com isso.
Com o avanço da idade, as perguntas vão ficando mais avançadas.
Estávamos estudando ciências e uma das matérias tratava de reprodução dos animais.
Quando veio a parte dos ovovíparos (que são os animais cujo desenvolvimento embrionário ocorre dentro de ovos que se desenvolvem dentro do corpo materno) ele ficou um pouco confuso e perguntou:
– Igual a gente, os mamíferos?
– Não João. Nós, mamíferos, somos vivíparos. O bebê cresce dentro da mãe, na placenta. Não tem ovo.
Eis que veio a explicação dessa pergunta.
– Mas a mãe não engravida com uma sementinha?
Segurei o riso, afinal era a explicação que a gente mesmo dava para ele quando perguntava como a mãe engravida. – É hora de explicar. Pensei
– É como se fosse uma sementinha. Mas não gera ovo e fica dentro da barriga da mãe.
– “Ufa! Foi uma boa resposta. Não sou bom nisso, imagina se fosse menina…”- Pensei.
– E como que a sementinha entra? Pela boca?
Assumo que quase não segurei o riso essa hora e pensei em uma resposta que ia deixar ele ainda mais confuso. Mas me contive e vou guardar esse pensamento pra mim (rs).
– Não. Entra pela vagina!
– A mãe coloca? Mas como? – Nessa hora ele já estava com caras e bocas de novo.
– Não. O pai que coloca quando eles estão namorando.
Uma cara horrenda e: – QUE NOJO! Credo.
Tive a ligeira impressão que na verdade ele não tinha entendido como que a “sementinha” entrava de fato
Alguns segundos e…
– Isso que é sexo?
– ISSO João. Isso que é sexo. – Respondi firmemente, mesmo tendo a certeza que ele ainda não entendeu exatamente o que é sexo.
Ufa! Preciso melhorar esse tipo de conversa. – Pensava eu quando acabava os estudos de ciências e me preparava para levantar…
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Sou Rafael Andrade, fundador do Sem Choro, Empreendedor, Designer Gráfico e Web, Diretor da Agência iMAGON, pai “solteiro”* do João e do Marcelo (que está quase chegando).
*Criei o João praticamente sozinho até me casar com a mãe de criação e coração dele, a Bebela (como ele a apelidou).
Contato: rafael@semchoro.com.br
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