Conto escrito por Rafa Andrade
Antônio, um rapaz no seus quase 40 anos, vivia em um vilarejo distante da cidade.
Vilarejo típico de filme de sessão da tarde. Povo acolhedor, harmônico e de cenário calmo.
Um velho ancião, Aristolfo, no alto vivia. Com sua sabedoria, vez ou outra, discorria sábias palavras.
Um dia, se mudou para a casa ao lado de Antônio, uma bela moça. Logo ficaram amigos e começaram um convívio próximo. Antônio, que se sentia solitário no amor, logo se apaixonou pela bela moça.
A moça era carinhosa e amorosa com todos. Mas vez ou outra estava irritada por algo. Tinha gênio forte, diziam.
O namoro, de fácil premonição, em pouco tempo aconteceu. E um novo casal apaixonado, no vilarejo floresceu.
O muro que separava a casa de ambos era bem baixo. Desses que se senta para o horizonte avistar.
A Moça, de Espirradeira ficou conhecida. Espirradeira era uma bela flor que havia em abundância na parte mais alta do vilarejo.
Por Antônio, Espirradeira se dizia apaixonada. Em dias de sol por cima do muro, flores mandava.
Um belo dia, mais nublado e com tempo fechado, não veio uma flor, mas sim uma pedrinha que acertou bem em cheio a cabeça do moço. Era pequena e não causou grandes danos.
Em seguida uma flor para remediar o dano causado.
Aos poucos as pedrinhas foram fazendo cada vez mais parte da rotina e Antônio, apaixonado, passou a não ligar. Afinal, ele estava aprendendo a lidar com o gênio forte.
Com o tempo, de tamanho as pedras aumentaram, assim como as dores a acompanharam.
Com o passar dos anos, o rapaz já não se lembrava de quando as pedras e as flores atiradas iniciaram.
As flores exalavam cheiros adocicados. Mas as pedras deixavam marcas profundas. Na pele e no coração. E com o tempo já não dava mais para escondê-las.
Em uma conversa no final de tarde, com o ancião, ele se abriu. Entender ele precisava.
– Então você não se lembra como tudo isso começou? – perguntou o sábio ancião.
– Não. – Respondeu Antônio.
– Certamente você não percebeu que as pedrinhas cresceram…
– Como Assim?
Antônio não se deu conta. Com o passar dos anos as pedrinhas foram aumentando até virar tijolos. As flores já não eram capazes de curar a dor dos tijolos atirados.
Desse dia em dia ele passou a enxergar as pedras e flores com outros olhos.
Vivia uma ambivalência de desejar estar com sua amada Espirradeira, mas da dor precisa de proteção. Seria possível viver esse amor?
Após a conversa com ancião, seus olhos abriram como uma flor que brota da terra.
O mesmo cheiro, as flores não exalavam. As pedrinhas de fato cresceram e a cura para os danos dos tijolos já não tinha como remediar.
Pedras e Flores do jardim ele sempre recolheu. Um dia, o tijolo caiu sob o muro que dividia as casas e Antônio assim o deixou.
As flores passaram a ser colocadas em um jardim vertical e os tijolos foram erguendo o muro.
O muro foi crescendo, crescendo. E com ele um lindo jardim vertical.
Em uma manhã de sol, Antônio não recebeu flores. Nem Pedras.
O muro estava alto demais para se ultrapassado. Desde então ele nunca mais recebeu tijolos, pedras, nem flores.
As feridas cicatrizaram e Antônio viveu em uma casa mais segura e florida.