Criar hábitos de higiene bucal é essencial para a saúde dos tecidos orais, bem como para a manutenção do organismo como um todo por diversos motivos, como a eliminação de bactérias e melhor absorção de nutrientes. Contudo, essa necessidade é ainda maior na infância.
Quando crianças, o aprendizado e a inclusão de novas rotinas ocorrem de modo mais facilitado, por conta do maior número de sinapses existentes no cérebro infantil e pelo maior controle das práticas no decorrer do dia.
Desse modo, ao introduzir uma rotina clara de higienização com as ações feitas de modo correto nos primeiros anos da vida, há não só a prevenção do surgimento de problemas bucais na infância, como uma adesão melhor às práticas e a manutenção da saúde no decorrer da vida.
Afinal, uma vez aprendido e internalizado, os hábitos se tornam essenciais e até automáticos para a realização das tarefas cotidianas.
Importância da higiene bucal
De modo geral, a higiene bucal consiste em processos de eliminação das placas bacterianas e resíduos de alimentos na cavidade bucal.
Para isso, o uso de escovas, cremes, fios e enxaguantes bucais se fazem necessários.
Contudo, durante a infância – principalmente na primeira – o cuidado deve ser redobrado nesse momento, demandando o uso de ferramentas apropriadas para a higienização.
Desse modo, com o auxílio de uma escova de cerdas macias, por exemplo, é possível prevenir diversas patologias que atingem os tecidos da boca (como cáries e gengivite) e manter a saúde em dia.
Além disso, quando a prática se torna um hábito, além dos problemas bucais, é possível evitar que haja agravamentos de inflamações ou ainda a perda de tecidos, como os dentes.
Assim, a longo prazo, há mais qualidade de vida, saúde, conforto e economia. Afinal, os procedimentos realizados para correção e tratamento costumam ter um maior valor agregado, se comparados às consultas e procedimentos de rotina.
Como e por quê criar um hábito?
A definição de hábito consiste em todas as atividades que são realizadas de forma praticamente automática pelo cérebro, não demandando desgastes ou esforços para ser realizada adequadamente.
Ou seja, são práticas realizadas como em um piloto automático, como se fossem pré-programadas.
Para se ter uma ideia da importância da criação de bons hábitos, segundo estudos divulgados pela Universidade norte-americana Duke, pelo menos 40% das atividades realizadas diariamente são originadas dos hábitos criados.
Com isso, na infância, a inclusão dessas práticas é facilitada, pois os pequenos estão em fase de aprendizado e o cérebro funciona como um “buchinha”, que suga as novas informações.
Na prática, isso ocorre porque há um maior volume de informações trocadas pelas estruturas neurais. Essa corrente de informações é chamada de sinapse.
Além disso, é possível monitorar os processos da escovação e a realização da atividade de forma mais precisa, o que contribui com a criação do hábito e tornando-o mais prático.
Contudo, apesar desses fatores serem grandes aliados para os pais, a inclusão da escovação deve ser feita com cautela, respeitando as fases da infância e as necessidades de cada idade.
Criando um novo hábito
Existem diversas fórmulas que podem ser aplicadas para a inclusão de um novo hábito na fase adulta, mas há como adaptá-las para as crianças?
A verdade é que para a criação de qualquer rotina e hábito é necessário que haja a repetição e padronização das ações.
Isso significa que do mesmo modo que um profissional precisa praticar as técnicas antes de realizar um tratamento de canal, as crianças precisam exercitar a atividade da escovação diariamente, de modo que se acostumem à prática e a realizem com mais qualidade.
Basicamente, de acordo com vários estudos na área da psicologia, um hábito pode ser criado ao repetir uma atividade por aproximadamente 21 dias. Mas para que isso ocorra de forma mais clara e adequada, alguns processos e motivadores podem ser utilizados.
Conforme evidenciado por pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e corroborado em demais publicações, fatores são imprescindíveis e/ou que influenciam diretamente na criação de um hábito. São eles:
- Deixa ou gatilho – motivo para o novo hábito;
- Rotina – atividade que será realizada “em série”;
- Recompensa – gratificação alcançada, que estimula a realização da tarefa;
- Inspiração – um exemplo, pessoa de referência que alcançou tal objetivo.
Isso significa que os principais fatores para a criação de um novo hábito são universais e podem ser aplicados/adaptados para diversas idades, inclusive para as crianças. Para isso, a linguagem e as propostas precisam ser ajustadas.
Cabe ainda ressaltar que apesar de haver concordância em relação aos 21 dias para a criação de um novo hábito, esse período pode variar conforme o indivíduo e prática a ser incluída.
Isso porque algumas mudanças podem ser mais complexas do que outras, demandando etapas mais detalhadas para serem alcançadas, mesmo quando inseridas desde a infância.
Pense, por exemplo, nos procedimentos odontológicos. Enquanto uma extração de dente ou um implante demandam um prazo e cuidados maiores para que o organismo se adapte e responda ao tratamento, com um aparelho isso pode ocorrer mais rapidamente.
Por esse motivo é preciso constância ao criar o hábito de escovação nas crianças, tornando o momento o mais prazeroso possível e explicando sua importância.
Assim, devido a facilidade de aprendizado e a facilidade que pode ser atribuída à higienização, no decorrer das primeiras semanas as mudanças já poderão ser notadas.
Confira nos tópicos a seguir algumas práticas para incentivar a higiene bucal e os cuidados complementares para a saúde bucal das crianças.
Criação de exemplos e importância do processo
Um dos principais motivadores para a criação de um hábito é ter uma referência dentro daquele tema, que estimule a continuação da prática (seja ela qual for); e isso não seria diferente na infância.
Na criação de uma rotina de higiene bucal os pais são os melhores exemplos que uma criança pode ter.
Por isso, estar junto dela no momento da escovação e estimular esse momento de forma lúdica cria mais interesse e prazer na atividade, que não será vista apenas como uma obrigação.
Além disso, ter os pais próximos auxilia a criar um vínculo familiar à atividade, tornando o momento ainda mais especial.
Por esse motivo, é imprescindível que os cuidadores também realizem a higienização diariamente, explicando quais as necessidades do processo e o motivo desse momento ser tão importante para a saúde.
Já sobre a importância, é preciso que com o avançar da idade os pequenos compreendam o porquê realizam determinada tarefa e qual o impacto dela em sua vida.
Afinal, a motivação e compreensão são determinantes para que o hábito seja realmente internalizado e vivido.
Cuidados necessários ao ensinar práticas de higiene bucal
Como mencionado anteriormente, os itens utilizados pelas crianças durante a higienização podem ser diferentes daqueles que serão usados na fase adulta, principalmente em relação às características presentes e as composições.
O creme dental, por exemplo, pode ser utilizado tanto no modelo infantil quanto no convencional, desde que haja atenção à quantidade de flúor e quanto material é aplicado na escova.
De modo geral, o indicado é que o creme corresponda a um grão de arroz cru para crianças entre 2 e 4 anos. A partir dessa idade, a quantidade pode ser semelhante ao grão de ervilha.
Outro fator que demanda atenção é a rigidez das cerdas da escova, que devem ser extra macias para não ferir a gengiva mais sensível das crianças. O tamanho da cabeça e cabo do item também precisa ser avaliado antes de realizar a compra do produto.
No entanto, um diferencial atrativo dos materiais produzidos para o público infantil é que eles têm estampados os personagens que circundam o universo das crianças, trazendo mais tranquilidade para o momento da escovação.
O uso do fio dental também deve ser estimulado no processo de higienização, destacando que o produto é o único capaz de alcançar resíduos e bactérias mais profundas e de difícil acesso para a escova.
Assim, a compreensão do processo e dos materiais utilizados estarão mais claros na mente dos pequenos.
Ambiente adaptado
Para além dos produtos de higienização que podem ser personalizados para o público infantil, a estrutura do ambiente no qual a escovação vai ocorrer também deve ser adaptada.
Disponibilizar um apoio como banquinhos firmes para que a criança possa subir ao realizar a higienização é imprescindível para reduzir incômodos que podem surgir nesse momento, como a dificuldade de visualização no espelho, abertura de torneiras e ao cuspir os resíduos do creme e água presentes na boca.
Lembre-se que se houverem barreiras como receio e a dificuldade de realizar a higienização, a criança associará esses sentimentos ao processo, criando certa resistência ao hábito.
Assim, para criar um momento mais descontraído, decorações diferentes podem ser usadas, brinquedos podem ser disponibilizados e atividades diversas podem compor o momento de passeio.
Tratamentos ortodônticos e higienização
Após a troca dos dentes decíduos pelos permanentes pode surgir a necessidade da colocação de aparelho ortodôntico para corrigir a mordida e o alinhamento dental, por exemplo.
Nesse momento, cuidados complementares deverão ser incluídos na rotina de higienização, como o uso de escovas próprias para o modelo metálico fixo.
Com isso, podem surgir diversos receios e até a desmotivação do processo de higiene, por haver uma percepção alterada da autoimagem.
Contudo, é nesse momento que se torna ainda mais essencial a higiene constante dos tecidos bucais.
Uma forma de minimizar o impacto do aparelho na imagem é verificar se, conforme o quadro e idade, há a possibilidade de recorrer aos modelos móveis ou até aparelho ortodontico transparente.
Com isso a autoestima é mantida, de modo a impactar na manutenção do processo de higiene.
Contudo, cabe ressaltar que as novas práticas devem ser destacadas na rotina de higienização, demonstrando a necessidade de fazê-la com ainda mais cuidado.
Para isso, os modelos removíveis devem ser higienizados e guardados adequadamente, respeitando os períodos de refeição – como ocorre na dentição.
Já os fixos demandam mais atenção durante a escovação, para que resíduos não se acumulem próximo às gengivas, reduzindo riscos de inflamações e cáries.
Ludicidade e recompensas para a fixação do hábito
A ludicidade consiste na prática de atividades diversas de educação com um apelo imagético, imaginativo e por meio de brincadeiras.
Com isso, muitos dos processos de aprendizagem podem ser otimizados, impactando até na recepção e percepção das atividades que são obrigatórias.
Nesse sentido, diversas ações podem contribuir para o ensino dos hábitos de higiene.
Músicas, brincadeiras, brinquedos, jogos e até aplicativos para celular podem ser utilizados para demonstrar a importância da escovação, como a atividade deve ser feita e tornar o processo em um momento de diversão para a família.
Uma sugestão nesse sentido é o uso de um brinquedo que possibilita a demonstração do processo de higienização ou no qual a criança possa reproduzir a atividade.
Outra forma de incentivar a prática é estabelecer recompensas para os pequenos que seguirem a rotina adequadamente.
Nesse caso é possível criar um placar no qual o tempo é fator determinante para obter a recompensa, ou conquistar um prêmio melhor. Assim, o hábito será aplicado sem que haja esforços diários para que a criança realize a atividade.
Dentre os benefícios pode estar um momento de diversão em família, algo que a criança deseje ganhar, tempo maior para alguma atividade de entretenimento (como brincar na rua ou ver desenho), desde que seja possível de cumprir com facilidade.
Cuidados extras
Criado o hábito de higienização e estando clara a importância do processo, as visitas ao odontopediatra e os cuidados com a alimentação ainda devem ser mantidos de modo a otimizar os resultados da higienização, contribuindo para a saúde dos pequenos.
Isso porque o profissional pode auxiliar nas atividades que podem ser propostas e para explicar a importância da higiene de forma mais clara e adequada para as crianças.
Além disso, ele poderá acompanhar se a rotina está sendo realizada de forma correta e identificar quais os riscos para a saúde bucal.
Já a alimentação impacta diretamente na resistência da estrutura bucal, na manutenção da higiene e até no combate aos vírus e bactérias que podem entrar em contato com o organismo.
Afinal, a mastigação é a primeira etapa do processo digestivo, responsável pela absorção de vitaminas e nutrientes que proporcionam o funcionamento correto do corpo.
Com os cuidados adquiridos durante o ensinamento dos hábitos e com a constância na realização da tarefa, os pequenos terão a saúde bucal em ordem, prevenindo que infecções possam ocorrer na fase adulta.
Deste modo, as visitas aos profissionais poderão ser realizadas para verificar quanto custa um clareamento dental – em casos de interesse -, ou apenas para as consultas de rotina, complementando os cuidados diários com essa parte tão importante do corpo.
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