Recentemente fui convidada a escrever algo sobre psicologia e crianças para esse blog salvador da pátria naqueles dias em que você está com tanta coisa na cabeça que nem consegue pensar, quanto mais ter ideias sobre o quê fazer com a criançada.
Desde a graduação na UFMG (2003-2008) meu trabalho tem como tema principal o desenvolvimento humano e suas possibilidades. Acredito que tenha sido isso que possa ter gerado no meu querido amigo de tempos antigos uma lembrança longínqua dessa mulher que tem um afilhado e uma ex-enteada, mas que ainda não teve coragem para bancar noites em claro e jornadas duplas ou até mesmo triplas que os super pais (Sim! Vocês são meus heróis!!), guerreiros, têm que sustentar todos os dias da semana, 365 dias por ano!
Eu não quero aumentar a pressão sobre vocês! Juro! Mas vocês, pais, têm uma responsabilidade enorme, não só em relação às suas crianças, mas também em relação ao mundo que precisamos e queremos ver daqui a alguns anos. As grandes mudanças econômicas e sociais que batem a nossa porta acontecerão em grande medida através das nossas crianças. Por isso precisamos ensiná-las a viver bem, para que assim possam contribuir para o desenvolvimento do planeta. Caso contrário estamos fadados ao fracasso que a nossa sociedade tem se transformado.
Viu! Sem pressão!
Enquanto eu pensava em quê escrever afinal, eu fui me fazendo perguntas, e por achar que por elas mesmas eu poderia conseguir fazer pensar alguns pais que estão passando por aqui, decidi iniciar por elas. Por isso, lá vão: o que significa viver bem para você?; o que você gostaria que seu filho pudesse viver quando ele crescer e se tornar um adulto assim como você é hoje? Qual é o seu projeto de vida para o(s) seu(s) filho(s)? Para a família de vocês? Você consegue ver algo de criativo no dia-a-dia de vocês, ou o cotidiano está mais para a repetição da mesma coisa todos os dias sem parar, deixando tudo meio cinza?
A possibilidade de criar relações dinâmicas, afetuosas, de cumplicidade, espontâneas, suportivas (sem serem condescendentes), onde TODOS são respeitados em suas características pessoais é sinônimo de saúde emocional familiar. Se você se identifica com essas características, sua família está de parabéns. Agora, se você percebe a falta de mais respeito, cuidado ou até mesmo amor na sua família em relação a uma característica ou outra de um dos familiares, pare agora e reflita sobre a importância de olhar para isso, e cuidar disso, não só para você, mas também para seus filhos e mesmo seus netos, bisnetos, e assim por diante.
Se para você viver bem é sinônimo de bens materiais e poder social, talvez você ensine seu filho que ele precisa vencer sempre para ser bom e talvez ainda o coloque para aprender inglês numa escolinha de línguas com apenas 3 anos de idade. Cuidado! O descuido em relação a parte emocional das crianças pode gerar consequências danosas a qualquer mente brilhante desse planeta!
E o que eu posso fazer pelo meu filho para que ele se desenvolva bem emocionalmente e possa crescer usufruindo de toda sua potência de vida?
A resposta é simples, só que não!
Nós, seres humanos, infelizmente estamos sendo tragados por um mundo que mais enquadra a todos numa caixinha bem pequeninha do que se propõe à curiosidade de reconhecer as potencialidades de criação da humanidade, que todos nós temos. Nossas potencialidades geralmente determinam nossos gostos, hábitos, escolha profissional, estilo de vida, obstáculos, etc.
Mas pode deixar que eu não vou enrolar. Lá vai a resposta da pergunta que não quer calar: para que seu filho se desenvolva bem emocionalmente, vocês, pai e mãe, precisam se cuidar emocionalmente primeiro!
É Cruela Cruel! Essa pegou de jeito não? Parece que o jogo virou não é mesmo¿! Mas vamos lá! Sem desespero! O mais difícil é sempre o primeiro passo!
Respire. Relaxe. Não se preocupe em encontrar soluções rápidas. Na verdade, desconfie das saídas rápidas. Primeiro você precisa reconhecer que você faz o quê faz tentando fazer sempre o melhor possível. E esse olhar precisa ser colocado sempre como prioridade na vida, senão começamos a patinar emocionalmente o que acaba nos levando aos mesmos resultados anteriores que não queremos mais repetir. Ou seja, ficar remoendo, querendo ser ou ter o que você não é ou tem não lhe leva a resolver o problema da saúde emocional da sua família.
Comece por você!
Não há crianças sadias com pais adoecidos assim como não há pais sadios com crianças adoecidas. Nossas famílias formam uma unidade, que por sua vez ocupam um lugar de referência durante toda a nossa vida.
Você sabia que até mais ou menos os 5 anos de idade as crianças aprendem por imitação? Elas não conseguem ainda criar nada. Então tudo o que fazem reflete de maneira muito fiel todo o sistema familiar. Todos os sentimentos de uma criança dizem mais da sua família como um todo do que dela mesma em separado.
A criança na família é uma esponjinha ambulante. É um ser que ainda está recolhendo dados do mundo para que mais a frente crie suas próprias ideias e pensamentos sobre ele. Na fase inicial da infância é também a época em que a criança mais registra informação do meio em que elas vivem, e não tanto de suas próprias sensações e pensamentos, sendo o ego algo ainda em construção e muito vulnerável. Isso pode ser comprovado quando as crianças não sabem separar quem são elas e quem são os pais, por exemplo.
A falta de qualquer um dos dois papéis mais importantes na nossa vida – pai e mãe – afeta diretamente a possibilidade da criança se ver como um ser inteiro ao longo do seu desenvolvimento, pois não experimenta o asseguramento dado pela vivência de que apesar dos seus erros e bobagens eventuais ela não perde o amor dos pais porque eles a amam e lhe dão a segurança de seu valor pessoal e coletivo.
Por outro lado os pais precisam também sentir-se assegurados de que seus filhos os amarão acima de tudo.
Uma vez ouvi de uma colega psicóloga:
“Sempre encorajo e falo, que sentir amor e ódio da mãe (e dos filhos, eu acrescentaria…) é um processo natural. Quem nunca, de repente porque não vai a uma festa quando a mãe proíbe, passou a sentir um ódio enorme dessa figura? (Um ódio fugaz que seja, mas ainda assim latente em todos nós.) Estou descobrindo como filho adolescente é capaz de despertar esses sentimentos. Estou vivendo nas extremidades, nas polaridades, à beira de um ataque de nervos. Ele desperta em mim o meu melhor, e no segundo seguinte o meu pior. Sempre acreditei que não gritaria com meus filhos, afinal, sou psicóloga, uma pessoa super controlada. Que nada!!! De repente estou gritando para que ele me escute, mas aí mesmo que ele me ignora. Se eu faço de um tudo, sou chata. Se não faço nada, sou chata. Se não abro a boca, sou chata. Se falo, sou chata. Agora, ele está um doce, na tentativa de me manipular para não aceitar o convite da escola de conversar e tirar dúvidas sobre sexo! “Pelo amor de Deus mãe, você não vai”. Ir ou não ir ? Eis a questão! Rs”
Por isso é que eu digo e repito! É preciso que vocês, pais, se cuidem emocionalmente para poderem agir da forma mais autêntica, espontânea e positiva possível. As crianças estão implorando por isso!! Por pais autênticos e verdadeiros na relação com elas.
A possibilidade de diferenciar os elementos cotidianos não colocando tudo “num mesmo saco” é talvez o primeiro desafio. As consequências de uma vida equilibrada emocionalmente chegam a ser consideradas o melhor investimento que uma família pode fazer, gerando até mesmo eventuais economias futuras como desgastes e gastos com remédios para tratar de doenças que nada mais são do que a expressão do corpo orgânico do que precisa ser cuidado internamente na família para que vocês possam viver tranquilos, uma vida plena e cheia de vitalidade.
Para finalizar, deixo uma pergunta: o que está tornando as mudanças necessárias mais difíceis hoje?
Pense bem, mas sem desespero. Lembre-se de respirar sempre que for preciso. Tome o tempo necessário para as ideias, que possam estar revoltas, assentarem e olhe para elas com o máximo de distanciamento possível. Não leve tudo para o lado pessoal. Todos nós estamos diariamente tentando nos superar. Talvez essa seja justamente a ideia de viver. Afinal, o jogo só acaba quando termina!
Um abraço a todos e um ótimo final de semana!
____________________
Meu nome é Karen Kotchergenko Batista, tenho 31 anos, sou psicóloga clínica – Gestalt-terapeuta. Observadora nata dos comportamentos humanos o quê eu mais gosto de fazer é atuar em benefício da restauração da relação das pessoas com a sua própria saúde e bem-estar. Me pergunto constantemente: o quê esta pessoa precisa nesse momento para poder expandir sua perspectiva sobre o mundo e a sua responsabilidade sobre ele.
Contatos: karenkotchergenko@yahoo.com • (21) 985828276 • Skype: karenkotchergenko