Relato de parto: meu filho não chorou. “Com a ajuda do bendito Fórceps, João nasceu, mas ele não chorou.” – A minha experiência de parto sem ouvir o choro do meu filho foi muito dolorosa. Assim nasceu minha paternidade e compartilho com vocês essa experiência, que, apesar de dolorosa, me fortaleceu muito.
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Sou Rafael Andrade, pai do João de 8 anos e fundador deste portal. Em meus contos e artigos tentarei passar um pouco da minha experiência como pai, alguns contos engraçados que só as crianças nos proporcionam e, por que não, algumas dicas.
Para começar, nada como o início. O parto. No meu caso, essa experiência de parto será um tanto quanto triste relembrar. Porém, 8 anos depois, tudo está muito bem. Então já não me recordo com tristeza desse dia. Me recordo como uma grande batalha vencida. Assim nasce minha paternidade.
Era sexta feira, dia 16 de novembro de 2007. O João dera sinais durante todo o dia que já queria ver o sol raiar. Na primeira ida à maternidade, ainda pela manhã, apenas uma recomendação: caminhar. Até então não sabia, mas a caminhada pode ajudar a dar mais ritmo às contrações. Sem exageros claro.
O dia passou tranquilo, normal, como qualquer outro. A noite, a ida ao hospital foi em definitivo. “Vamos internar”, afirmou a médica plantonista. Minha prima Nena, ainda estudante de medicina acompanhava todo o processo. O relógio apontava 23h.
Já internados (sim o pai também interna), o trabalho de parto foi lento. O hospital estava calmo e um pouco vazio naquele andar. Me lembro de ouvir apenas os gemidos das mães em trabalho de parto. As contrações aumentaram apenas por volta de 3h quando enfim a bolsa estourou. Até aí, todo o pré natal e o trabalho de parto corriam como cena de novela.
A enfermeira, muito atenciosa, me conduziu ao banheiro e me deu as roupas para acompanhar o trabalho de parto. Quando me vi sozinho no banheiro prestes a me tornar, de fato, pai, chorei pela primeira vez como pai! Eu era muito novo e de certa forma um pouco frio. Era! Dali em diante virei uma manteiga derretida.
A Sala de Parto
Quando entrei na sala de parto me deparei com uma equipe bem ampla. O Hospital das Clínicas é um hospital residente, portanto, muitos estudantes rodam por lá. A equipe tinha duas enfermeiras, um pediatra (me lembro bem de sua fisionomia e o reconheceria na rua facilmente), um obstetra e 2 residentes.
A mãe biológica do João já tinha tomado a anestesia e o parto já estava em curso. Fiquei o mais quieto possível para não atrapalhar em nada o processo.
Aos poucos as contrações foram demorando mais e os médicos ficaram mais apreensivos. Por mais que eu quisesse perguntar o que estava acontecendo, me mantive em total silêncio. Não deve ser nada pior para um obstetra que em um momento de tensão ter que pensar em uma solução ouvindo um pai questionar o que está ocorrendo.
- “Pega o fórceps”. Nunca tinha ouvido falar nessa palavra até então. Me assustei com o tamanho daquilo, mas, deve resolver, pensei.
Assumo que perdi completamente a noção das horas e não me lembro quanto tempo durou tudo isso. Com a ajuda do bendito Fórceps, João nasceu, mas ele não chorou.
Pela demora do parto, João permaneceu muito tempo no canal vaginal e nasceu totalmente sem vida. Seu apgar foi de 1. O obstetra o deixou na maca sem vida e voltou as atenções para mãe. O pediatra, bem calmo, iniciou a massagem cardíaca e com uma espécie de tubo tentava fazer o João respirar sozinho. Ele nem se movia, e sua cor roxa não me deixava dúvidas… Mas esse pensamento eu me negava a deixar entrar em minha mente. Apenas esperava.
Enfim, o choro
Após uma eternidade, ele, enfim, puxou o ar e chorou. Eu, como pai, chorei pela segunda vez. Acho que estava um pouco atordoado com tudo aquilo e nem reparei que havia outra enfermeira na parte de fora da sala com uma incubadora já preparada pra ele. Nesse instante o pediatra o colocou na incubadora, saíram as pressas e a enfermeira pediu para eu me retirar.
Fui para o corredor do hospital por volta de 5h. O silêncio agora era ensurdecedor. Os minutos que passei sozinho nesse corredor foram longos e dolorosos. Chorei pela terceira vez.
As notícias só vieram ao amanhecer. A mãe biológica estava bem. O João não. Tinha sido induzido ao coma para poupar energia na recuperação.
- “Ele vai ficar bem?”. Era a pergunta padrão para os médicos.
A resposta também era padrão: “A situação é grave, mas temos que acompanhar a evolução dele”.
UFA!
Assim foi minha experiência de parto. Nada agradável. Mas hoje, tudo está bem. João está com 8 anos e tem acompanhamento neurológico desde o parto para assegurar que tudo corre bem. Alguns médicos que olham para o relatório de alta dele, quase não acreditam que se trata dele, tamanha evolução.
Sou Rafa Andrade, fundador do Sem Choro, empreendedor, Designer Gráfico e Web, Diretor da Agência iMAGON, pai do João (e, futuramente, da Manuela ou do Marcelo) e pai solteiro até me casar com a mãe de criação e coração do João, a Bebela (como o João a apelidou).
contato: rafael@semchoro.com.br