Já viu a matéria que saiu sobre o Rafael Andrade, fundador do portal Sem Choro no jornal Estado de Minas?
No texto ‘Ser protagonista’, a jornalista Lilian Monteiro conversou um pouquinho com o Rafael Andrade sobre o papel de protagonista do pai na criação dos filhos e a ideia de criar o portal Sem Choro.
Estado de Minas, domingo, 30 de abril de 2017. Matéria na íntegra | Link no EM
A experiência de pai solteiro levou Rafael Andrade a fundar o Sem Choro, portal de dicas para os homens que assumem a criação dos filhos e, na nova sociedade, encaram o desafio de participar.
O que é ser pai? Se para a maioria das mulheres esse papel é intrínseco à sua existência, para o homem é uma descoberta.Um aprendizado para aqueles que se propõem a assumir um protagonismo que, na maioria das vezes, infelizmente (oxalá a sociedade está mudando!), não é encarado como natural. Isso porque barreiras absurdas foram criadas e impostas pela sociedade,que vão desde machismo, preconceito, falta de interesse e compartilhamento do homem, proteção excessiva da mulher, e você pode aumentar essa lista o quanto quiser.
A boa notícia é que tudo muda e, apesar dos obstáculos, muitos pais decidiram ter voz ativa e participam ativamente da criação dos filhos, quando não são eles os verdadeiros criadores. Se ainda não é tão comum, é certo que vivemos uma nova paternidade.
Rafael Andrade, de 32 anos,é um exemplo. Fundador do site Sem Choro,empreendedor, diretor da Agência iMAGON, foi pai solteiro de João, de 9, e, agora com uma família, espera a chegada de Marcelo,em setembro, ao lado da mulher, Izabela Loureiro.
Rafael conta que se separou da mãe biológica do João quando ele tinha pouco mais de 1 ano. E mesmo durante esse tempo as principais tarefas, em sua grande maioria, foram feitas por ele.
“Consultas, levar e buscar da escola, colocar para dormir, acordar à noite, ler história, trocar fralda…Depois da separação,voltei a morar com minha mãe e dois irmão, apesar de ter auxílio e ajuda, continuei com todas as principais tarefas. Com o tempo, decidi entrar com a ação na Justiça pedindo a guarda legal. E em 5 de agosto de 2011, eu passei a ter a guarda individual dele.”
Izabela surgiu na vida de Rafael quando João tinha 1 ano e 8 meses.“ A Bela se tornou uma espécie de ‘pai de fim de semana’, suprindo uma necessidade de uma figura materna com amor e carinho. Nos casamos no dia do aniversário dele de 5 anos e esse apego naturalmente só aumentou. Hoje, as principais tarefas continuam sendo exercidas por mim, mas de fato não sou mais pai solteiro. Como ela gosta de dizer para o João:
“Não te carreguei na barriga durante nove meses, mas vou te carregar pra sempre no meu coração”.
Rafael conta que João tem TDAH, o que aumenta muito o desafio da criação e o faz estudar sobre esse transtorno para saber como lidar no dia a dia e como auxiliá-lo nas questões em que ele tem mais dificuldade.
“Minha mulher é pediatra e ajudou muito no diagnóstico precoce da doença. Como não tinha contato com outras crianças na época, não conseguia identificar as dificuldades e atrasos que ele apresentava com 2/3 anos. O TDAH me deixa sempre apreensivo sobre o futuro.Envolve muitos desafios psicológicos, bullying na escola, dificuldade de aprendizado… Não tem como se preparar. Cada criança é de um jeito e elas não vêm com manual. Meu segundo filho nasce em setembro e não me lembro de mais nada sobre bebês. Será, sem dúvida, um novo desafio”, diz.
Os ganhos da paternidade para Rafael foram gigantescos. Inclusive,a percepção do que é ser pai e mãe.
“O que mudou bastante foi minha visão de mãe. Os ditados mais famosos sobre mãe e pai são: ‘Mãe é mãe’ e ‘Pai é quem cria’. Esses ditados foram desconstruídos pela minha experiência. Tanto o pai quanto a mãe só terão o respeito e o amor do seu filho conquistado no dia a dia,na criação. Adaptei o ditado para: ‘Mãe e pai é quem cria’.” Filho, para os pais, é sinônimo de tanto amor que dói.”
Rafael se lembra de que João lhe fez uma pergunta parecida um dia desses em um restaurante.“’Pai, como é ter um filho? ‘Eu achei graça da pergunta. Mas respondi apenas com: ‘É ter força e motivação todos os dias para ser um bom exemplo’.” Em sua história ao lado de João, Rafael diz que a mais emocionante talvez tenha sido a do parto. Momento que não consegue resumir, mas que contou com detalhes no site Sem Choro e pode se emocionar no link www.semchoro.com.br/blog/ele-nao-chorou. Mas uma bem engraçada foi quando João tinha 7 anos.
“Estávamos indo para a escola e, após algum longo silêncio, ele perguntou com voz séria: – Pai,qual o seu maior medo? Após alguns segundos de reflexão, respondi:–De perder minha família. Principalmente você e a Bebela. Em seguida, o silêncio se prolongou e logo me arrependi da resposta. ‘Onde eu estava com a cabeça?’ Traumatizei o menino! Passei meu medo pra ele,’ pensei. Quebrando o silêncio, ele perguntou, ainda bem sério: – Sabe qual é o meu maior medo? –Não, João. Qual é o seu maior medo? –Meu maior medo é de ganso! Ganso é muito perigoso! Esses momentos, essas histórias, são de uma riqueza que não tem preço.”
Preconceito
Rafael se preocupa, atua, se impõe contra o preconceito em relação ao protagonismo do pai. O mundo é instituído como mãe criando filho. Mas já não é bem assim.
“Hoje,a paternidade está começando a ser vista de uma forma diferente, assim como o papel da mulher. Passei por situações embaraçosas e curiosas durante toda a vida do João. Na maternidade não existia banheiro masculino. Em restaurantes, o trocador na maioria das vezes fica no banheiro feminino. Esse tipo de situação está mudando lentamente. Essa geração de pai descobriu o prazer que é acompanhar os passos do filho. Meu pai não passou por isso como pai por trabalhar fora, e hoje faz questão de estar presente em cada momento na vida dos netos. Ainda é um modelo novo de família, mas já é uma realidade. Eu me tornei um cara muito mais sensível depois de ser pai. E não tenho vergonha de afirmar que sou capaz de me emocionar com um simples bilhete ou uma nota alta em uma matéria que o João tem dificuldade.”
Para Rafael, esse novo modelo é um caminho natural.
“E se posso dar uma dica aos pais é: assuma esse papel que é sua função. É muito difícil. Muito mesmo. Mas é emocionante e não tem preço”, afirma.
Sem Choro
A ideia de Rafael Andrade criar o site Sem Choro foi em 2011. Ele passava o carnaval em Belo Horizonte e todos os dias ele ia em algum restaurante com um amigo e o João.
“Não conseguia encontrar informações na internet de restaurantes que tinha espaço kids. Tinha que procurar na rua mesmo. A ideia inicial era apenas compartilhar com pais e mães informações de bares e restaurantes que tinham espaço para as crianças. Hoje, o Sem Choro é um espaço que reúne inúmeras informações úteis para pais, mães, tios, avós, irmãos e todos aqueles que têm por perto uma criança com a sua inesgotável energia.”Assim,nasceu uma espécie de guia.
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